Débora Hack, gerente de projetos e produtos educacionais da BEĨ Educação, avalia quais serão as maiores dificuldades a superar
A partir de 2023, todas as instituições públicas e privadas do país devem entrar em conformidade com as regras do Novo Ensino Médio. As normas e a estrutura do modelo constam da lei 13.415/2017. Isso traz para as escolas alguns desafios para implementarem o Novo Ensino Médio.
A proposta visa propiciar uma série de inovações para todos os envolvidos na gestão escolar. Isso inclui desde estudantes a docentes e gestores.
Neste texto, vamos explicar as principais características do modelo. Além disso, abordaremos os cinco principais desafios para sua implementação.
O que é o Novo Ensino Médio
É o novo modelo que deve vigorar para essa etapa da Educação Básica. Ele está previsto na lei nº 13.415/2017. De acordo com o Ministério da Educação, “essa mudança tem como objetivo garantir a oferta de educação de qualidade a todos os jovens brasileiros”. O MEC diz ainda que essa nova estrutura deve “aproximar as escolas à realidade dos estudantes de hoje, considerando as novas demandas e complexidades do mundo do trabalho e da vida em sociedade”.
Há dois pilares fundamentais para a implementação deste modelo. O primeiro é a preparação para o ensino em tempo integral. O segundo é a definição de uma nova organização curricular, mais flexível. Os estudantes estarão em contato com componentes curriculares típicos, que já conhecem. Mas, junto deles, deverão escolher áreas de aprofundamento: os itinerários formativos.
Segundo Débora Hack, gerente de projetos e produtos educacionais da BEĨ Educação, “os itinerários formativos são uma maneira de os jovens escolherem o que gostariam de estudar, com base no que os instiga”. A especialista explica essa novidade. “São percursos propícios a desenvolver as expectativas de aprendizagem de cada área do conhecimento e, dentro desse recorte, aptos a colocar em prática tudo o que foi ensinado.”
Complementação do processo
Para complementar esse processo, há a adoção do trabalho por projetos. Ele busca fazer com que os estudantes entendam suas próprias atuações em um cenário real. Os alunos passam pelas etapas de pesquisa, compreensão de contexto e criação de protótipos. Assim, o ensino tradicional, mais comum no modelo anterior, vai dando espaço à interação com o conhecimento de maior profundidade.
Abre-se, assim, a possibilidade de trabalhar com o Projeto de Vida dos estudantes, por exemplo. Ele propõe um processo de autoconhecimento, em que os alunos aprendem a fazer suas próprias escolhas e planejar seus objetivos pessoais.
Cinco desafios para a implementação do Novo Ensino Médio
Sabendo da importância da elaboração de currículos estudantis de referência, Hack levanta cinco desafios para a implementação do Novo Ensino Médio que as escolas virão a enfrentar. Confira abaixo quais são eles.
1) Aumento da carga horária
O Ensino Médio deixará de ter 2.400 horas de carga horária mínimas. Elas serão substituídas por 1.800 de formação geral básica e 1.200 de itinerários formativos, totalizando 3.000. As escolas já deveriam ter começado a implantar esta grade visando as mudanças para o ENEM de 2024.
Contemplar este número sem aumentar as mensalidades ou a carga horária dos educadores, deixando possíveis lacunas no processo de ensino-aprendizagem dos estudantes, tende a ser um grande quebra-cabeça.
2) Trabalho por áreas de conhecimento
Antes, os conteúdos eram trabalhados de forma isolada, cada um em seu próprio componente curricular. A partir do Novo Ensino Médio, a ideia é que os estudos sejam direcionados por áreas de conhecimento. São elas:
- Matemática e suas Tecnologias
- Linguagens e suas Tecnologias
- Ciências da Natureza e suas Tecnologias
- Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
O desafio é sincronizar essas esferas junto aos educadores. Alguns exames já começaram a colocar essa proposta em prática, como a primeira fase da Fuvest 2023.
3) Foco em metodologias ativas
Aula invertida, autonomia de estudos, trabalho por projetos… Essas são algumas das estratégias que devem passar a ser utilizadas nas salas de aula. Elas colocam o estudante no centro do processo de aprendizagem.
Para isso, as escolas precisam criar novos processos formativos, libertando os professores das “amarras conteudistas”. Interação e diálogo com o conhecimento são o grande foco.
4) Operacionalização do novo modelo
Como operacionalizar a instituição de ensino dentro dessas novas exigências? O colégio, antes de executar, terá de pensar e planejar, compreendendo que as áreas precisam se conectar e, ao mesmo tempo, atribuir maior autonomia aos estudantes.
Esse processo é lento; logo, criar uma organização efetiva será uma estruturação a longo prazo. Além da hora-aula obrigatória, incorporar os itinerários à grade também será necessário.
5) Escolha dos próprios itinerários
As escolas devem oferecer, pelo menos, um itinerário formativo de cada uma das quatro áreas de conhecimento. Essa medida torna o estudante protagonista do processo escolar. Anteriormente, todos os componentes curriculares eram padronizados e levados ao aluno, sem o apoio necessário para que ele fizesse as melhores escolhas para sua trajetória.
Essa é a ideia por trás do Projeto de Vida, por exemplo, por meio do qual os educadores investem na potencialidade dos jovens. O educando, assim, passa a ter mais voz.
Essa nova estrutura pode trazer dúvidas aos estudantes quanto a como escolher os itinerários formativos que vão cursar. Neste texto, damos algumas dicas.